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04/01/2011

Dar para acabar com esmolas

Apoio: Comerciantes e particulares uniram-se na criação de um sistema capaz de combater a fome

O avançar da crise levou comerciantes e particulares a unirem esforços para que o flagelo da fome não seja sentido no concelho de Setúbal. Voluntários do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA), numa parceria com a Cáritas de Nossa Senhora da Conceição, fornecem refeições quentes a cerca de 250 pessoas na cidade. Outros 150 habitantes de Azeitão são beneficiários desta acção, que assenta na entrega das sobras de 30 restaurantes e pastelarias.

Cristina Pinto, uma das beneficiárias de Azeitão, explica as vantagens de receber ajuda. "Cheguei a pedir esmolas pelas ruas de Azeitão para poder alimentar os meus filhos. Graças à entrega de alimentos, deixei de o fazer e já não vivo o pesadelo de não ter comida para pôr na mesa", referiu esta antiga ajudante de geriatria.

Ricardo Ramos, proprietário da Casa da Lasanha, em Brejos de Azeitão, manifesta-se satisfeito com a iniciativa. "São três as vantagens que retiro de dar diariamente cerca de 30 a 40 refeições que me sobram. Em primeiro lugar, não tenho aquela sensação desagradável de ter de deitar comida para o lixo. Em segundo lugar, os voluntários levam a comida, pelo que não tenho de a recolher para levar o lixo. Por fim, ao final do ano, a associação CASA entrega-me um comprovativo que garante benefícios fiscais", referiu.

Nas instalações da CASA, a comida quente é depois repartida pelos beneficiários e entregue. Juntos são também dados sacos de alimentos que, entretanto, foram recolhidos em superfícies comerciais do concelho e também provenientes do Banco Alimentar local.

Na cidade de Setúbal, são os carenciados que se deslocam à paróquia de Nossa Senhora da Conceição para recolherem os bens alimentares. Contudo, em Azeitão, devido a muito dos pobres viverem em aldeias afastadas do centro da freguesia, são os voluntários que se deslocam porta a porta. Na Aldeia da Piedade, há três famílias beneficiárias, casais de idade, a quem a doença impede de trabalhar.

O objectivo da associação é a expansão, para poder ajudar os 32 mil carenciados do distrito com a criação de uma cozinha solidária. A limitação de meios, porém, impede esse desenvolvimento.

PRESOS CULTIVAM PARA AJUDAR POBRES

A onda de solidariedade para fazer chegar alimentos suficientes aos que mais precisam chegou também às cadeias. António Alves, presidente do Banco Alimentar de Setúbal, disse ao CM que "os presos dos estabelecimentos prisionais de Pinheiro da Cruz (Grândola) e de Setúbal estão a cultivar cerca de dois hectares para a produção de alimentos para os mais pobres".

"Num momento de crise, é bom saber que todos querem ajudar", referiu António Alves, descrevendo que das "cadeias vêm bens como batatas, couves e cenouras".

O mesmo responsável acolhe com agrado "a decisão da União Europeia de reforçar o contingente de produtos como massa, açúcar e farinha para distribuir pelos pobres perante o agravar da crise". Na última campanha de Novembro, o banco de Setúbal reuniu 327 toneladas de bens, numa tarefa em que participaram 180 áreas comerciais.

DISCURSO DIRECTO

"HÁ O RISCO DE FECHAR": Rogério Figueira Vice--presidente da associação CASA
– Correio da Manhã. Como obtêm verbas para pagar rendas pelos armazéns ou combustível para o transporte de alimentos?

Rogério Figueira – Pela boa vontade dos particulares, embora às vezes tenhamos de ser nós a pagar a gasolina para levar comida aos pobres. Há sempre o risco de não termos dinheiro e ter de fechar.

– Não têm apoios públicos?
– Não. Apesar dos contactos com a Segurança Social no distrito e com a Câmara Municipal de Setúbal.

– Qual a origem dos alimentos?
– O Banco Alimentar, superfícies comercias e restaurantes.

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