A Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), assumiu a promoção da candidatura da Arrábida a Património Mundial da Humanidade, em parceria com o Instituto da Conservação Natureza e da Biodiversidade (ICNB) e as Câmaras Municipais de Palmela, Sesimbra e Setúbal. Logo se juntaram a estes, outros serviços públicos e da sociedade civil, bem como dezenas de setubalenses e amigos da região para se baterem pela aprovação desta candidatura. Eu fui um dos convidados. Aceitar não foi um favor mas um dever. Ou melhor: foi uma grande honra.
Arrábida não é nossa, foi nos legada. Por isso, temos que a estimar e cuidar muito bem dela para a podermos deixar aos nossos vindouros. Conseguir que a Arrábida seja considerada pela Unesco como Património Mundial fará com que toda a Humanidade colabore na criação de condições para a defender de tudo que a possa agredir, conservando-a como um local natural de valor ímpar pela sua beleza, um museu a céu aberto de processos geológicos demonstrativos da história da vida na Terra e um jardim a perder de vista de enorme riqueza florística, alguma única no mundo. A Serra Mãe tem sido, ao longo da sua história, estudada por muitos cientistas; cantada por músicos populares e eruditos; descrita por prosadores e poetas, sendo Sebastião da Gama, o mais eloquente; rezada por místicos. Sempre que alguém, de outras regiões dos pais ou de outras paragens do mundo me visita não deixo que parta sem conhecer a nossa “joia da coroa”. Ninguém fica indiferente a uma paisagem de tão grande esplendor, a uma herança geológica, ecológica e cultural preciosas. Ficam sempre deslumbradas com tanta beleza estética expressa no entrelaçar entre a natureza e a cultura; nos contrastes das cores dadas pelo mar, a terra, o céu e a serra.
o já muitas as organizações e pessoas que se comprometeram a promover esta candidatura. Mas só estas não chegam. Este terá que ser um desígnio nacional. Para isso, é necessário que os habitantes da Região de Setúbal deem o exemplo e todos se unam em torno desta causa. As famílias, as escolas, as instituições culturais, recreativas, solidárias e desportivas, as Igrejas… promovam visitas guiadas à Serra para se seja mais conhecida e amada; organizem campanhas de preservação do ambiente, levando à não deposição de lixos e à remoção dos existentes; organizem equipas de voluntariado ambiental para prevenirem situações que possam atentar contra tão singular património e avisar, atempadamente, as autoridades competentes.
O Poder Local seja capaz, com o apoio incondicional do Governo, de encontrar uma solução mais favorável para a conservação da Serra, evitando desequilíbrios ambientais e contribuindo para a diminuição da beleza, nomeadamente no que respeita à manutenção da Fábrica de Cimentos; a reutilização de edificados devolutos para fins turísticos, concretamente, as instalações militares; a construção de infraestruturas que estimulem o turismo sem agredir o ambiente, como por exemplo o acesso mais facilitado às praias; a recolha de cães que deambulam pela Serra, selvaticamente abandonados pelos donos, que esfomeados se tornam muito perigosos.
A cada cidadão pede - se que cuide da nossa Serra como uma pérola preciosa. Contribua para que se mantenha sempre limpa; não destrua a vegetação porque pode mesmo estar a aniquilar espécies únicas no mundo; desfrute de espaços tão aprazíveis, confraternizando com familiares e amigos, mas deixe tudo em melhores condições do que encontrou; faça registos fotográficos da Serra e coloque-as nas redes sociais ou mande-as a pessoas que vivam noutras latitudes do Planeta, etc.
Será difícil à Unesco encontrar justificações para não reconhecer a Arrábida como Património Mundial da Humanidade, pelo que estou confiante que a candidatura será aprovada. Mas se, por ironia, isso não acontecesse, a nossa Serra não deixará de ser um Património do Mundo, pois não é a humanidade que valoriza a Arrábida mas ela que lhe acrescenta valor. Que não sejam os que mais usufruem dela a desvalorizar tão precioso património. Seria uma grande ingratidão.
por Eugénio Fonseca
(Presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal e da Cáritas Portuguesa)