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22/09/2010

Novos equipamentos reforçam oferta educativa de Azeitão

Vai ficar gravada na história de Azeitão, o dia em que se celebrou o centenário da Implantação da República, pela inauguração do novo estabelecimento de ensino Escola Básica da Brejoeira, equipamento que vai permitir a integração na rede escolar de mais 363 crianças do pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico das duas freguesias de Azeitão – S. Lourenço, onde fica localizada, e S. Simão.

A construção do novo estabelecimento de ensino, num investimento da ordem dos 4 milhões de euros, foi suportada pela Câmara Municipal, que o candidatou ao Programa de Requalificação da Rede Escolar do 1.º Ciclo do Ensino Básico e da Educação Pré-Escolar, no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional, de que resultou uma comparticipação de 800 mil euros.

O parque escolar de Azeitão vê assim beneficiado as suas condições de aprendizagem, onde, para além da construção da Escola Básica da Brejoeira, foi também ampliada e remodelada a Escola Básica de Vendas de Azeitão, agora com a valência de pré-escolar, em conjunto com outras intervenções, que permitiram dotar os estabelecimentos de ensino com melhores condições nas áreas das copas e refeitórios, foram também realizadas nas escolas básicas de Vila Fresca e de Casal de Bolinhos e também na de Brejos do Clérigo, que não contemplava o serviço de refeições.

A Carta Educativa de 2006 do Concelho de Setúbal recomenda como muito urgente o investimento na rede escolar de Azeitão, para além destes dois equipamentos, mais dois, uma EB1/JI em Pinhal de Negreiros, na Freguesia de São Lourenço, com capacidade para 75 crianças do pré-escolar e 200 alunos do 1º ciclo e uma outra EB1 na freguesia de S. Simão com capacidade para mais 200 alunos do 1º ciclo.

O investimento nestes equipamentos, que embora em boa hora vem reforçar a rede escolar de Azeitão, tornando assim possivel funcionar em regime normal a maioria das escolas, ou seja, com aulas das 9 às 15.30 horas e almoço no local, o que possibilita a realização de actividades de enriquecimento extra curricular depois desse horário,
peca por ser um investimento insuficiente uma vez que ainda não responde totalmente às necessidades, pois ainda ficaram a funcionar no ano lectivo 2010/2011 em Azeitão, em regime duplo (com turmas de manhã e outras de tarde) 4 turmas do 1º ciclo na Escola de Vila Nogueira de Azeitão, ou seja cerca de 100 crianças e a continuação de crianças em lista de espera para o Pré-escolar de Azeitão.
Bastava projectar só mais duas salas....
Será incompetência ou falta de jeito?
Ou será que temos que ser sempre assim?
Por Luis Rosado Santos

ARRÁBIDA ESVENTRADA


(Des)Protegida. Existem nove pedreiras activas na serra do Parque Natural da Arrábida. A exploração pode continuar mais uma centena de anos. Sobrevoando a Arrábida, observamos uma serra com um manto verde esventrado por grandes buracos, circundado a norte por anéis de betão e a sul pelo mar.

Os camiões que vão e vêm das 'crateras lunares' lançam poeira por todos os lados. São onze as pedreiras existentes no Parque Natural da Arrábida (PNA), mas só duas estão desactivadas e "em processo de recuperação", assegura o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), que tutela o parque.

As pedreiras estendem-se por uma área superior a 300 campos de futebol (323 hectares) dentro da área protegida que totaliza 12.328 hectares. Quando o PNA foi criado, em 1976, ocupavam apenas metade deste espaço.

Em 2005, o Plano de Ordenamento do parque interdita novas explorações e proíbe a ampliação das existentes, mas dois anos depois o Governo aprova um decreto-lei que permite a perfuração da serra - as pedreiras podem expandir-se em profundidade mas não em área -, e por tempo ilimitado.

As licenças não determinam prazos mas cotas de extracção de inertes. A longevidade de cada pedreira depende assim do ritmo de exploração que, por sua vez, depende dos interesses de mercado dos exploradores. Ou seja, podem perpetuar-se por mais uma centena de anos, admite o secretário de Estado do Ambiente: "Teoricamente podem, se extraírem muito pouco, uma vez que não há um limite de tempo".

Humberto Rosa defende que o facto de "estarem integradas no Parque, obriga os proprietários a planos de recuperação ambiental estritos". Porém, confessa: "Evidentemente que era melhor não haver ali pedreiras". Até agora foram recuperados ambientalmente 70 hectares das áreas desactivadas, metade dos quais pela Secil, que detém ali uma cimenteira e duas pedreiras.

Do ar, o coração da serra é também pontilhado por núcleos urbanos e casas dispersas. Não chocam a vista, como as crateras. O Parque estende-se pelos concelhos de Setúbal, Sesimbra e Palmela, que têm aldeias e loteamentos espalhados pela Arrábida. O Plano de Ordenamento "não proíbe a construção, antes a condiciona" e nos últimos cinco anos o ICNB enviou para tribunal 12 processos de embargo por considerar nulas as licenças passadas por outras entidades.

Ninguém sabe quantas casas ilegais existem actualmente no parque da Arrábida. Em 2006 eram 38, segundo o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Duas foram demolidas no mês passado.

por Carla Tomás (texto) e Luiz Carvalho (fotos) (www.expresso.pt)

13/09/2010

Portinho da Arrábida - É uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal!

O Portinho da Arrábida foi eleito pelos portugueses como maravilha na categoria Praias e Falésias, derrotando o Pontal da Carrapateira e a Praia de Porto Santo.
Quase 660 mil portugueses escolheram as "7 Maravilhas Naturais de Portugal" de uma lista de 21 candidatos, numa votação que decorreu por telefone e pela Internet.

Zonas Marinhas, Zonas Aquáticas Não Marinhas, Praias e Falésias, Florestas e Matas, Grandes Relevos, Grutas e Cavernas e Zonas Protegidas eram as sete categorias em concurso.
Entre as 21 maravilhas naturais finalistas estavam o Portinho da Arrábida e o Parque Natural da Arrábida.

Esta é uma vitória muito importante para Azeitão e para toda a região de Setúbal, uma vez que precisa cada vez mais de se afirmar como destino de Turismo de Natureza.

A Paisagem Vulcânica do Pico, ganhou na categoria «Grandes Relevos», que disputava com o Parque Natural da Arrábida e o Vale Glaciar do Zêzere, na Serra da Estrela.

Os resultados foram anunciados na noite do passado sábado, numa gala que teve lugar nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, nos Açores.
Para além do Portinho da Arrábida, as "7 Maravilhas Naturais de Portugal" são: Lagoa das Sete Cidades, Floresta Laurissilva, Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico, Grutas de Mira Daire, Ria Formosa e Parque Nacional Peneda-Gerês.

09/09/2010

MOSCATEL À BOLEIA DA SAGRES


Na viagem que está agora a decorrer foram embarcados dois cascos de moscatel roxo de 1999 e dois de moscatel de Setúbal de 1998. Darão a volta ao mundo e espera-se que regressem melhor do que partiram.

Já não é a primeira vez que o navio-escola transporta barricas de moscatel de Setúbal. Tudo começou em 2000, quando foram colocados seis cascos de moscatel, com capacidade para 600 litros cada, bem amarrados ao convés do navio, numa viagem até ao Brasil. A ideia era tentar reproduzir os célebres Torna Viagem, moscatéis que, no séc. XIX, eram enviados para o Brasil em casco e que por falta de comprador, regressavam. Todo o balanço do navio e os calores do Equador operavam milagres e o vinho regressava muito melhor do que tinha ido. Acabou com o tempo por se tornar um produto raro e muito caro.

A empresa José Maria da Fonseca, mentora deste projecto, voltou em 2007 a enviar em nova viagem mais seis cascos, 3 de moscatel roxo e 3 de moscatel de Setúbal. De cada um destes envios ficou sempre um casco em terra, como testemunha, para se poder comparar o que regressou com o que... não embarcou. O último engarrafamento comercial destes Torna Viagem, com longa estadia em casco depois da viagem marítima, verificou-se em 1981. Desde então, a firma de Azeitão deixou de produzir o Torna Viagem.

Esta prática da ida e vinda por barco para atravessar o Equador não é única em Setúbal, já que também na ilha da Madeira se utilizava e com a mesma intenção - dar calor ao Madeira -, o que o fazia evoluir mais depressa mas ficar muito bom. Segundo Domingos Soares Franco, enólogo de José Maria da Fonseca, terão mesmo sido os suecos os primeiros a usar esta técnica, com a bebida mais conhecida da Escandinávia: a aquavit, destilado de batata, acrescentado de ervas e bagas aromáticas. Segundo Soares Franco, "...ainda actualmente anda sempre aquavit nos barcos suecos para a beneficiar com o efeito do calor". Todos os cascos das anteriores viagens repousam agora nas caves de Azeitão e, ainda segundo o enólogo, "não serão engarrafados nesta geração", dando a entender que não vale a pena ter esperança de algum dia os provar...

Esta viagem de 2010 tem um interesse acrescido, uma vez que, pela duração da mesma, vai implicar quatro passagens no Equador e isso pode ser muito interessante para os vinhos, para além dos 11 meses de balanço que vão ter. Em algumas garrafeiras especializadas ou em leilão, é frequente surgirem garrafas de Torna Viagem à venda. Caríssimas, claro...

(Texto publicado na Revista Única do Expresso de 30 de Janeiro de 2010)

06/09/2010

Ministério vai continuar a demolir casas no parque da Arrábida

In SetubalnaRede/Bruno Cardoso - 06-09-2010 11:24

O Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território garante, em resposta às deputadas bloquistas Mariana Aiveca e Rita Calvário, que vai “continuar a proceder ou a fornecer os meios necessários” para a demolição de alegadas edificações clandestinas detectadas no Parque Natural da Arrábida. À semelhança do que tem acontecido noutras áreas do litoral português, o ministério tutelado por Dulce Pássaro acrescenta que está actualmente em curso “um levantamento das edificações clandestinas existentes nas diversas áreas protegidas”, reiterando que os recursos a eventuais demolições “constituem medidas de tutelas da legalidade urbanística” a adoptar pelo ministério “em casos de violação de planos especiais de ordenamento do território ou quando esteja em causa a prossecução de objectivos de interesse regional ou local”.

A mesma resposta do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território faz ainda alusão ao caso particular da demolição da construção do senhor Florentino Henriques Duarte, suspensa por ordem do juiz por um período de 6 meses, depois de ter sido apresentado um atestado médico sobre a gravidez da filha do proprietário. “A edificação em causa foi declarada ilegal quer pelo Tribunal da Relação de Lisboa quer pelo Supremo Tribunal de Justiça em 1995, tendo a decisão já transitado em julgado”, salienta a mesma fonte, acrescentando que, o ministério “respeita e executa a decisão das autoridades judiciais competentes”.

A tutela considera também “prematura” uma eventual revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA), no que se refere ao Parque Marinho Professor Luís Saldanha. O ministério recorda que a restrição mais significativa, relativa à área sem exploração de recursos, “só entrou plenamente em vigor há um ano”, pelo que, segundo os dados de que dispõe, as restrições impostas “só têm como beneficiários todos aqueles que vivem da pesca”, um facto que pode vir a ser comprovado pelo alegado aumento, desde 2005, das embarcações que se mantém em actividade, bem como das capturas e do rendimento, “mesmo quando os valores são divididos pelo número de dias de pesca”.

Deste modo, o ministério tutelado por Dulce Pássaro considera que o descontentamento face ao POPNA “se encontra ultrapassado”, não só pelos indeferimentos pelos tribunais administrativos das providências cautelares interpostas pelos municípios de Setúbal, Sesimbra e Palmela, mas também “pela progressiva consciencialização da legalidade do POPNA”. “A sua progressiva aplicação tem demonstrado que muitos dos receios, preocupações e acusações aduzidas contra ao plano não eram fundados”, sublinha a tutela, aludindo ainda ao facto de as diversas acções administrativas intentadas no sentido de obter a declaração de ilegalidade do regulamento do POPNA terem sido todas elas “resolvidas favoravelmente para o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território”.

03/09/2010

Cavalhadas animam Festa de Nossa Senhora da Saúde


Começa hoje e decorre até domingo, em Vila Fresca de Azeitão a Festa de Nossa Senhora da Saúde. A festividade, que decorre junto da Igreja de S. Simão, abre com um arraial. Do programa, destaque para a prova a cavalo ou cavalhadas, a quermesse, e actuação da banda no Coreto.

Esta festividade conserva algumas das vertentes mais tradicionais das festas do século XVIII e XIX, como por exemplo a prova a cavalo ou cavalhada, à antiga portuguesa, prova equestre com origem no século XVIII, em que cerca de 20 cavaleiros se esforçam por acertar com um varão numa argola pendurada a alguns metros de altura, tem início às 16h00 do dia 4.

02/09/2010

O filho do comerciante do Cais do Sodré que revolucionou os vinhos de Azeitão

Foi por obra do acaso que José Maria da Fonseca foi parar a Azeitão há 175 anos. Já a produção de vinho, tanto tinto como moscatel, era a principal actividade lá da terra. Mas o empresário, que nem tinha ligações agrícolas, havia de se transformar numa referência do sector em que introduziu verdadeiras inovações: o marketing, por exemplo. Foram os primeiros passos de um autêntico império vinícola que hoje regista um volume de negócios de 22 milhões de euros, empregando 120 pessoas.

Mal sabia José Maria da Fonseca que iria deixar-se seduzir pelos encantos de uma propriedade na península de Setúbal. Os terrenos tinham sido dados como garantia de dívida ao Contrato dos Tabacos, uma empresa de vários nomes conhecidos de Lisboa em que se incluía o pai José António da Fonseca, um comerciante do Cais do Sodré. Foi na execução dessa dívida que José Maria visitou a propriedade, acabando por a retirar do monopólio dos Tabacos.

Era o início da reviravolta na vida da família. Já em Azeitão, José Maria da Fonseca atirou-se à produção vinícola, mas começou logo a deixar marca no momento em que a sua formação em Matemática o alertou para a organização das vinhas, que passou a plantar com mais espaço entre as fileiras, para permitir que a terra passasse a ser lavrada com mulas. As bestas haviam de substituir o homem, de enchada na mão, em 1840, e a ideia foi reconhecida por um produtor de Bordéus (região vinícola francesa), que falava em "revolução nos campos".

Mas não era tudo. Também a ideia de começar a exportar em garrafas agitou o sector dos vinhos em Portugal que, até então, apenas vendia vinho a granel para o estrangeiro. O sucesso da estratégia foi rotundo. As vendas dispararam. Já José Maria da Fonseca tinha lançado novas castas e dado grande visibilidade aos seus vinhos, através da criação de marcas específicas - Moscatel de Setúbal, Periquita ou Palmela Superior e aplicação de rótulos. A promoção dos produtos passava a conhecer uma nova etapa, até que 1884 assinala a aposta no mercado brasileiro, obrigando à aquisição de novas vinhas em Portugal. A partir de 1917, é reforçada a presença em Terras de Vera Cruz, tendo a empresa chegado a constituir um escritório no Rio de Janeiro (1920) para apoiar a rede de agentes que cobriam o país. As exportações para o Brasil ascendiam às cem mil caixas de vinho, entre Moscatel de Setúbal e Colares Viúva Gomes. Assim se explica que a crise do Brasil, com a revolução de Getúlio Vargas (1930), tenha acarretado problemas complicados de tesouraria, agravados pela a recessão económica mundial da época, à qual se sucedeu um ciclo de recuperação financeira, alicerçado no rosé, que perdurou até meados 1980, pela mão de António Porto Soares Franco, filho de António Soares Franco Júnior, enólogo diplomado em França e criador dos vinhos rosé Faísca (1937), que conquistaram o mercado interno, e Lancers (1944), um sucesso no Estados Unidos.

175 anos depois de José Maria da Fonseca ter iniciado um negócio de gerações, o descendente que desde 1986 assume a presidência da empresa percorre os corredores do museu, radicado numa casa apalaçada em plena vila de Azeitão, onde estão guardadas as histórias seculares, para mostrar o legado e garantir que não há tempo para parar. Refere-se à investigação feita no laboratório, à experimentação de novos produtos, à conquista de novos mercados. Lá fora e cá dentro.

"O que foi feito no passado tem muito que ver com aquilo que a empresa é hoje. Também lançámos novos vinhos, novas castas, inovámos no moscatel, com aguardente vinda de França que lhe deu um perfil totalmente diferente. E foi uma pedrada no charco naquilo que eram os moscatéis e até os vinhos portugueses dessa altura", recorda António Soares Franco, colocando a ressaca do 25 de Abril entre os maiores amargos de boca da empresa.

A crise económica que varreu Portugal não deixou margem à família que, em 1985, se viu na contingência de vender os 51% que detinha da empresa a um sócio americano. Os juros estavam a 35% e eram pagos à cabeça, condenando qualquer negócio. A ligação foi que- brada ao fim de 150 anos, mas esta história teve final feliz.

A venda da quota da família permitiu reduzir a dívida à banca e fazer frente a outras. O negócio prosseguiu, com a compra e reequipamento de adegas. Ganhou-se novo fôlego que permitiu nova incursão no mercado. A família comprou outras instalações e em 1996 teve uma proposta de compra do grupo britânico IDV, que detinha as instalações da José Maria da Fonseca. Não hesitaram. Recuperaram a empresa, de onde hoje saem mais de 30 marcas de vinhos.
por Roberto Dores/In DN 30/10/2009

01/09/2010

Azeitão (Mercado Mensal)

Vestida de cor-de-rosa, a mulher vê-se ao espelho e parece gostar do conjunto. Conferencia com o marido, pede opinião à filha e retira-se para o interior da carrinha, sala de provas desta boutique com tectos de lona e chão de terra. É domingo em Azeitão e no mercado não há paredes para esconder a vaidade. N'O Cantinho da Moda, propriedades de um casal de feirantes de Vila Viçosa, vendem-se fatos à medida de cada cerimónia, paredes meias com bancas de couve portuguesa, mel do Algarve, alguidares de plástico, roupa interior de 'nylon', saias da Floribella.

São nove e meia da manhã e o calor derrete em poucos minutos o bloco de gelo que refresca garrafas de água na venda que alguém improvisou num atrelado. "Eu tenho a moda hoje", grita a cigana das camisolas Lacoste, abrindo as hostilidades. Do outro lado do corredor de pó sai outra voz estridente: "Ai, ai! É de marca..." E o cheiro dos pêssegos do homem que vende fruta mistura-se com a primeira leva de coiratos quando outro homem sai com um galo numa caixa que diz 'Sonasol'.

Estaciona-se longe em Azeitão a cada primeiro domingo do mês. Jipes, carrinhas de caixa aberta, automóveis de matrícula estrangeira, bólides de último modelo competem entre si por um lugar à porta daquele que é um dos acontecimentos mais concorridos da região, mas quem ganha na competição do estacionamento são as motorizadas, com a Famel, à cabeça. Um casal de 'soissante-huitards' chega ao parque com um atrelado de madeira e consegue lugar a um passo da entrada. Ela compõe a blusa e penteia-se com um pente azul. Ele desliga o motor e recebe o pente dela. Vão entrar na feira de braço dado. À porta, cruzam-se com uma mulher que sai com três peixes coloridos dentro de um saco de plástico.

Manuel, Jerónimo e José Luís não foram ao mercado para comprar nem para vender, porque "acabaram com o gado aqui". Lamentam. Manuel, Jerónimo e José Luís foram ao mercado "para pôr a conversa em dia" e alguns levaram o melhor fato. Conversam e riem à sombra de uma camioneta carregada de fardos de palha de trigo que um homem que não ri vende a dez euros cada. Jerónimo Peralta é pastor e já teve um "rebanho de 200 animais". Diz que se desfez de muitos "por causa do reumático". Agora tem uns vinte e há-de ir pastá-los mais tarde, quando o "calor amainar". Vive na Azoia perto do Cabo Espichel, onde a mulher tem uma queijaria e os dois fazem queijo fresco que vendem de semana no mercado de Sesimbra e aos fins de semana na lagoa de Albufeira.

Jerónimo é pastor "de gado para leite", como o pai foi e o avô já era, mas nunca produziu queijo de Azeitão. "Dá muito trabalho", justifica, desfiando um nunca acabar de normas de higiene e segurança. Fala e os amigos fazem coro com ele. Reunem-se à volta de Manuel Castelo, outro pastor, que conversa com ar de escarninho, sempre apoiado no cajado. Tem rebanho, como Jerónimo, "para os lados de Fernão Ferro". Umas 80 cabeças, mas nenhuma para leite. Jerónimo tem o gado mais perto do mar e gosta de o ver correr atrás das "cabeças de chorão", a flor que se dá por ali nas "terras mais vadias". Diz que é pastor desde que aprendeu a andar e diz isso como quem diz que não estranha a solidão. "Nunca conheci outra vida." Ainda houve tempos em que conversava com o "moiral da quinta ao lado", mas agora até essas conversas se acabaram. Por isso não lhe resta senão trocar o fato de andar no campo pela calça vincada e ir a Azeitão a cada primeiro domingo do mês.

Os homens ao seu lado fazem menos cerimónia com o mercado. "Por ali não há gado, mas sabe-se onde ele está", afirma Manuel Peralta. Os criadores conhecem-se uns aos outros, sabem quem tem o quê; os que estão dispostos a vender e os que podem comprar. Ali não se compra nem se vende gado, mas "combinam-se negócios para depois", acrescenta o pastor de Fernão Ferro. Eles conhecem-se uns aos outros, mas "quem os conhece a todos" é José Luís Figueiredo, o homem dos bigodes até ao queixo que compra "toda a lã entre Palmela e Alcochete" para depois a vender às "fábricas na Guarda". Umas cem tonelas por ano de lã que não tem a qualidade do merino, "a melhor espécie de ovelhas para lã". "Paciência", diz o coro de homens enquanto uma mulher sentada numa pipa de madeira lê uma folha de um suplemento de economia. Na zona da Arrábida, a "ovelha é saloia", boa para o queijo, mas "fraquita" na tosquia. José Luís não foi ao mercado comprar gado, mas, como os outros, entrou na esperança de fazer negócio.
por Isabel Lucas/In DN

Concorrência das praias rouba passageiros ao 'Azeitona'

A ideia de lançar um comboio turístico para percorrer as ruas e o património de Azeitão gerou enorme expectativa naquelas freguesias históricas de Setúbal. Da população residente aos visitantes. Todos aplaudem o Azeitona, e até há quem venha à janela assistir ao serpentear das duas carruagens pelas estreitas artérias da vila. O problema é que novo transporte viaja quase sempre sem passageiros.


Depois de mais de uma hora "às moscas", em viagem pela terra, eis que chegam, finalmente, os primeiros clientes à paragem localizada na Praça da República. São os quatro de Azeitão. Beatriz, Madalena e Rita, de 14 anos, e Duarte, de apenas 11. O entusiasmo em torno da viagem que vai começar em breve é grande e não é a tarifa de quatro euros que os desmobiliza daquele passeio, encarado como se de uma aventura se tratasse.

"Podemos sair onde quisermos e esperar pela próxima passagem do comboio, não é?", confirmava uma das menores junto da motorista de serviço, que respondia afirmativamente. "Já agora, pode esperar mais uns minutos por uma amiga nossa que está a chegar? Ela faz hoje 14 anos", insistia a jovem. "Claro que espero, estejam à vontade", esclarecia a profissional.

Já acomodado na carruagem traseira, o grupo explicava que, apesar de conhecer bem os vários recantos da terra, haverá sempre "mais qualquer coisa de Azeitão que pode estar por descobrir", justificava Beatriz, a única repetente no passeio, admitindo que o comboio funciona como uma espécie de carrossel a tempo inteiro, "capaz de animar e distrair as pessoas que não têm nada para fazer."

O comboio lá partiu rumo à Quinta Velha, onde funciona o Museu do Queijo de Azeitão. Do interior das viaturas que com ele se cruzam há quem acene, quem buzine e até quem pare para tirar fotografias.

"É uma novidade numa terra onde há muito pouco para fazer", justificava Carla Silva, uma moradora de Vila Nogueira de Azeitão, que experimentou o transporte logo na sessão inaugural, que decorreu na terça-feira, admitindo que só em Setembro vai voltar a andar. "Estou à espera que os meus netos regressem das férias para lhes fazer a surpresa."

Mas, afinal, porque é que meia hora depois os quatro jovens continuavam a ser os únicos utentes do novo serviço disponibilizado pelos Transportes Sul do Tejo (TST) em parceria com a Câmara de Setúbal? Alberto Marques, um dos moradores, explica que "o preço dos bilhetes afasta as pessoas, e os turistas que aqui temos são muito poucos. Querem é praia", alerta. No entanto, fonte dos TST diz que ainda é cedo para começar a tirar conclusões, revelando que, até ao momento, continua a funcionar o factor curiosidade, pelo que só no final de Setembro, quando termina o pro- jecto, será feita uma avaliação.

Os quatro euros dão apenas para meio dia, funcionando o comboio entre as 09.00 e as 12.30, e das 14.30 às 18.00. As partidas são feitas a cada meia hora na paragem dos TST na Praça da República e, segundo o itinerário estabelecido, o Museu do Queijo é o primeiro ponto de paragem, seguindo a viatura para o Palácio da Bacalhôa, onde pode apreciar-se a centenária azulejaria.

Depois, há para ver a Igreja de São Simão, a São Simão Arte e Faianças, a Bacalhôa Vinhos, a Fonte dos Pasmados, as Caves José Maria da Fonseca, a Igreja de S. Lourenço e a Capela de S. Marcos, com regresso ao ponto original.

Os utentes estão autorizados a descer em qualquer das paragens para fazerem as visitas, aguardando pela próxima passagem do comboio turístico.

por ROBERTO DORES – In Diário de Noticias