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09/09/2010

MOSCATEL À BOLEIA DA SAGRES


Na viagem que está agora a decorrer foram embarcados dois cascos de moscatel roxo de 1999 e dois de moscatel de Setúbal de 1998. Darão a volta ao mundo e espera-se que regressem melhor do que partiram.

Já não é a primeira vez que o navio-escola transporta barricas de moscatel de Setúbal. Tudo começou em 2000, quando foram colocados seis cascos de moscatel, com capacidade para 600 litros cada, bem amarrados ao convés do navio, numa viagem até ao Brasil. A ideia era tentar reproduzir os célebres Torna Viagem, moscatéis que, no séc. XIX, eram enviados para o Brasil em casco e que por falta de comprador, regressavam. Todo o balanço do navio e os calores do Equador operavam milagres e o vinho regressava muito melhor do que tinha ido. Acabou com o tempo por se tornar um produto raro e muito caro.

A empresa José Maria da Fonseca, mentora deste projecto, voltou em 2007 a enviar em nova viagem mais seis cascos, 3 de moscatel roxo e 3 de moscatel de Setúbal. De cada um destes envios ficou sempre um casco em terra, como testemunha, para se poder comparar o que regressou com o que... não embarcou. O último engarrafamento comercial destes Torna Viagem, com longa estadia em casco depois da viagem marítima, verificou-se em 1981. Desde então, a firma de Azeitão deixou de produzir o Torna Viagem.

Esta prática da ida e vinda por barco para atravessar o Equador não é única em Setúbal, já que também na ilha da Madeira se utilizava e com a mesma intenção - dar calor ao Madeira -, o que o fazia evoluir mais depressa mas ficar muito bom. Segundo Domingos Soares Franco, enólogo de José Maria da Fonseca, terão mesmo sido os suecos os primeiros a usar esta técnica, com a bebida mais conhecida da Escandinávia: a aquavit, destilado de batata, acrescentado de ervas e bagas aromáticas. Segundo Soares Franco, "...ainda actualmente anda sempre aquavit nos barcos suecos para a beneficiar com o efeito do calor". Todos os cascos das anteriores viagens repousam agora nas caves de Azeitão e, ainda segundo o enólogo, "não serão engarrafados nesta geração", dando a entender que não vale a pena ter esperança de algum dia os provar...

Esta viagem de 2010 tem um interesse acrescido, uma vez que, pela duração da mesma, vai implicar quatro passagens no Equador e isso pode ser muito interessante para os vinhos, para além dos 11 meses de balanço que vão ter. Em algumas garrafeiras especializadas ou em leilão, é frequente surgirem garrafas de Torna Viagem à venda. Caríssimas, claro...

(Texto publicado na Revista Única do Expresso de 30 de Janeiro de 2010)

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